ELIZABETH SEIXO
( Lisboa – Portugal )
Economista /TOC. Experiência como Directora Financeira e Administrativa e Chefe de Contabilidade.
Participou de várias antologias literárias.
SOM DE POETAS – Colectânea de Poesia. Lisboa?: Papel D´Arroz Editora, Múltiplas Histórias Unipessoal Ltda., 2015.
418 p. ISBN 978-989-8796-37-0 Ex. bibl. Antonio Miranda
HORA DE PONTA
Paredes pousam — serenas na calçada.
Escorre a calçada – lenta sobre a estrada.
Alonga-se em curvas suaves e brandas:
homens pisam dura nas pedras sem esperança!
Afunila-se o dia em passada ofegante
— desfaz os cabelos na paisagem errante —
os olhos vagueiam vazios, dormentes,
apaga-se o sol em luas cadentes!
Corpos encolhidos, na polpa da rotina,
avançam em quilha: na cidade que passa
— são corpo que vêm, são corpos que vão —
em sonhos armados de espuma e betão!
E da chaga, a tropeções aberta,
jorra a seiva em cor — sempre à mesma hora,
lenha fugaz, alternativa à sombra,
que lateja ao ritmo de sangue que brama!
Neste ruído: um lamaçal de silêncio
—pontuado de gente: em absoluta ausência —
naus que navegam, no derrame da hora,
na miragem do porto em que nunca ancoram!
Passos penosos trituram calçadas:
sem a dinâmica do voo da mente
— hora disforme de um rio frenético:
que nivela as ruas com vida cadente,
— é a turba amorfa, nem alegre nem triste,
a quem não importa se Orfeu existe!
Todos, em vão se sabem aqui;
todos, sem mão, se perdem depois!
Tudo passa e nada passa:
nos lábios secos gretados
da grande roda dentada!
Cidade em espasmos retida:
nos órficos cafés urbanos,
qual “Ode Triunfal “, em fúria,
do célebre Álvaro de Campos!
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Página publicada em novembro de 2021
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